CIÊNCIAS SOCIAIS

CIÊNCIAS SOCIAIS

25 de jul. de 2010

Qual o papel do cidadão ante as políticas públicas?

Qual o papel do cidadão ante as políticas públicas?

O conceito de cidadania vem sendo moldado ao longo da história da humanidade e está ainda longe do ideal em muitos lugares do mundo; alguns nem de longe possuem qualquer noção de cidadania, como as tiranias ainda presentes pelo mundo. Hoje, o conceito no Brasil, está ligado aos princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito e é direcionado para o conjunto das liberdades e obrigações políticas, sociais e econômicas. O cidadão da nossa época implica em ter que exercer seu direito à vida, à liberdade, ao trabalho, à moradia, à educação, à saúde e à cobrança de ética por parte dos governantes, está último deve ser traduzida como sendo a contrapartida para a colocação no poder de seus representantes. Assim, o cidadão que elege é o cidadão que deve cobrar a ação para que os agentes políticos possam cumprir seus papeis previsto na Constituição Federal.
O texto de Vicent Vagner Cruz nos faz remete a história do nosso país, onde visualizamos uma trajetória voltada para os interesses das elites e que o “homem do povo” não tinha acesso as coisas públicas, pois essas eram tratadas como coisas privadas e atendiam (atendem?) a uma minoria nuclear que sempre esteve ao redor do “trono”. No texto existe uma discussão de quem é o papel da fomentação das políticas publicas: do estado ou do mercado?
A resposta ao questionamento introduzido no Fórum passa pela nossa idéia necessária de que o Estado é o gerente das políticas publicas que devem ser implementadas para o desenvolvimento da sociedade, atingido diretamente os mais fracos no que concerne ao poderio econômico e que a sociedade como um todo deve traçar o planejamento das políticas públicas para o bem comum. Seria uma reformulação positiva dos Orçamentos Participativos, os quais não deveriam ter a maquiagem ou manipulação que podem sofrer, mas, sim, ter uma ação bastante clara e que a sociedade fosse estimulada a uma incorporação plena.

15 de jul. de 2010

Onde andam os Sociólogos...

Já dá pra perceber que esses profissionais são os que mais são substituídos nas suas funções. É preciso entender porque não existe concurso público para Sociólogo, a profissão ainda incomoda muito.

OS POLÍTICOS E O COMUNITARISMO

É preciso ficar atento aos profissionais do comunitarismo bem como aqueles que insistem em manter-se no poder para dele tirar vantagens!

Nas Comunidades Carentes ou em vulnerabilidade Social, o que mais se ver são lideres comunitários e dirigentes de Associações de Moradores a serviço do poder público local! Vendem as Comunidades como se fossem mercadorias, negociam cargo comissionados nos governos, onde empregam seus familiares, assim como negociam bolsa de estudo em Universidades particulares.

Como fruto destas aberrações, o que podemos ver é que as Comunidades estão totalmente abandonadas e desprovidas de serviços públicos.
Um outro agravante ocorre nas Câmaras de Vereadores. Dificilmente se pode observar a ida de lideranças nas casas legislativas para pleitear ou discutir projeto de interesse coletivo. Estão sempre negociando o território onde supostamente acreditam ter domínio.

Muitas das vezes, estas casas legislativas, equivocadamente funcionam como agência de emprego, onde a população em busca de uma oportunidade no mercado restrito de trabalho, busca nos legisladores carta de recomendação para se inserirem no mercado de trabalho, mercados estes que muitas das vezes pertencem aos empresários aliados dos legisladores, criando assim, uma Rede de interesse e troca de favores, que certamente desemboca no processo eleitoral dentro dos territórios [Feudos].

Agora, é importante observar que estamos num processo eleitoral onde a população que cobra melhoria, mas se esquece de fazer o controle social,
permitindo que todas estas mazelas ocorram como se tudo fosse normal! Quanto aos candidatos que estão se apresentando é importante observar qual a relação deles com a cidade, quais projetos apresentaram durante a sua legislatura e que segmento eles representam. Niterói não precisa de paraquedistas! Temos candidatos totalmente comprometidos com as questões políticas sociais, com experiência legislativa e que estão aptos a defenderem as demandas da população no Legislativo Estadual com muito mais representatividade do que os que aparecem de quatro em quatro anos, promovendo nas Comunidades churrasco regado a cerveja e pagode.

OS PROFISSIONAIS DO COMUNITARISMO: Enquanto em edifícios é difícil encontrar quem aceite ser Síndico e muitas entidades desaparecem pela falta de participação até mesmo de diretores eleitos, em alguns setores existem verdadeiros profissionais em busca de comando ou de liderança comunitária!
Há Associações e Sindicatos que, mesmo antes do Regime Militar, já eram dominados por famílias "fechando-se" em torno de grupos, de forma que o comando passe de pai para filho!

Em outra Instituição o comando é exercido com plenos poderes por um mesmo dirigente, valendo-se de recursos para impedir a oxigenação da entidade através da experimentação de novas Lideranças na sua diretoria!
Alguns "profissionais do Comunitarismo" buscam o comando em função do grande processo de terceirização de serviços públicos, não raro alguns deles passando a exercer cargo em comissão, notadamente na Municipalidade ou constituindo empresas ou cooperativas para serem beneficiados de terceirizações, obtidas em função do "prestígio" que arrogam contar.
Mais grave, são aqueles que enfeixam em suas mãos uma entidade por mais de 20 anos, ao mesmo tempo em que ensaiam comandar outras Instituições, as mais variadas, onde não raro se chocam com os grupos internos e, não conseguindo o poder, transformam-se em agentes da discórdia, sem a menor dose de pureza na conduta!

É fácil identificar os que transitam por entidades, como os políticos que mudam de pouso quando cansam os seus redutos eleitorais. Tais figuras passaram por Associações Profissionais, Clubes, Associações de Moradores e até importante Instituição, deixando um rastro negativo e nenhum mérito a exaltar!
Vaidosos, não respeitam os méritos de quem constrói com amor, sabendo dar sacrifícios, inteligência e competência à Comunidade, sem nada buscar em troca.

São pessoas que, certamente inspiravam Ruy Barbosa no seu lamento por tantas nulidades triunfarem, espalhando o mal e trabalhando contra o bem!

Artigo do Jornal a Tribuna.
Solicito aos Senhores e Senhoras, uma reflexão. Este Editorial é muito atual, acredito que após leitura, os senhores e senhoras de bem fatalmente identificará alguém ou alguma instituição que se encaixará perfeitamente neste editorial.
Quanto ao Jornalista da Tribuna, parabenizo-o pela sensibilidade e autêntico porta voz dos oprimidos, frente à estrutura arcaica e corrupta existente em nosso País!

Lamentavelmente com ênfase em Niterói.
Saudações Comunitárias.
Tião Cidadão.

“Não me preocupa mais, o grito dos maus políticos, dos corruptos, dos sem ética, nem o silêncio dos bons. O que me preocupa é o consumo do crack, drogas, extermínio, o abandono das crianças, dos adolescentes, neste País".

Tião Cidadão. Fone: [21]98878408.
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ORKUT TIÃO CIDÃDÃO.

13 de jul. de 2010

FIFA - UM NEGÓCIO ACIMA DA LEI...

12/07/2010 - 10h07
Um Negócio Acima da Lei!
Por Mario Osava, da IPS


Rio de Janeiro, 12/7/2010 – A Copa do Mundo da FIFA, apresentada e sentida maciçamente como uma disputa entre países que colocam em jogo a honra nacional, é um negócio privado, controlado por pequenos grupos de pessoas que exploram o patriotismo e incentivam rivalidades em seu mercado. O alerta de Arlei Damo, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), identifica características “mafiosas” na Federação Internacional de Futebol, que “monopoliza” este esporte profissional no mundo agrupando as federações nacionais e regionais.

Trata-se de “uma entidade fechada que não presta contas a ninguém” e não divulga o quanto ganha com este torneio mundial nem o destino de tanto dinheiro, afirmou Arlei à IPS. Dita regras, tem sua própria justiça e não aceita que seus membros recorram aos tribunais dos países. Formado em Educação Física e com doutorado em Antropologia Social, Arlei já tem três livros publicados sobre futebol e se soma a uma crescente quantidade de pesquisadores acadêmicos que estudam esse esporte.

A extraordinária capacidade de mobilização do futebol não se deve ao esporte em si, “um jogo sem sentido, de narrativa fragmentada”, mas aos fatos de ser um poderoso “bem simbólico” e de recorrer a mecanismos de adesão, como o nacionalismo e o clubismo, segundo o antropólogo. As multidões que vão aos estádios ou se emocionam com o campeonato mundial não o fazem pelo esporte, mas para apoiar seu clube ou a seleção que se transforma em símbolo da nação, acrescentou. O patriotismo capturado faz com que mulheres e muitos que “não entendem” nem apreciam futebol se tornem torcedores fervorosos.

As rivalidades são um elemento fundamental. A adesão a um clube – no Brasil, determinada por influência de um “parente consanguíneo” masculino, em 80% dos casos –, tem de ser definitiva como a família, e a infidelidade se torna um estigma social. A seleção do Brasil, como as do resto do mundo, não é uma equipe do país, mas da Confederação Brasileira de Futebol, um ente privado que não responde ao Estado nem à população, cujos rumos são decididos por alguns clubes poderosos, destacou Arlei.

A FIFA explora a ambiguidade e uma certa crença de que se trata de uma instituição multilateral, intergovernamental, apesar de privada. Vangloria-se de ter mais membros do que a Organização das Nações Unidas (208 contra 192) e não permite estrangeiros em uma seleção, apenas nativos ou naturalizados, para não perder o poder atraente do nacionalismo, disse Arlei. Esse quadro institucional, sem controle do Estado e da sociedade, favorece a corrupção denunciada por jornalistas como o escocês Andrew Jennings.

Não por acaso, a sede da FIFA fica na Suíça, cuja legislação flexível permitiu a impunidade em um caso de suborno denunciado por Jennings, envolvendo propinas oferecidas pela ISL (International Sport and Leisure) que negociava direitos de televisão e publicidade da entidade. Nas organizações que comandam o futebol em todo o mundo, os dirigentes costumam se eternizar no cargo, outro fato que propicia a corrupção. A Fifa foi presidida de 1974 a 1998 por João Havelange, que antes dirigiu a Confederação Brasileira por 16 anos.

O êxito “inexplicável” do futebol em todo o mundo, que faz dele o esporte preferido na maioria dos países onde penetrou, o coloca acima destes problemas, segundo Simoni Lahud, antropóloga da Universidade Federal Fluminense, de Niterói, no Estado do Rio de Janeiro. Essa expansão global do futebol, um triunfo que legitima o poder da FIFA, gerou por todos os lados uma “paixão popular” que diminui a repercussão da corrupção e das interferências do comando futebolístico em decisões nacionais, como a construção de estádios ou a forma de organizar o Mundial, explicou.

Em um mundo “transnacionalizado”, os esportes são “um dos poucos lugares para a representação nacional”, especialmente no Brasil, onde “a nação tem poucas vias de expressão e por isso coloca todas as fichas no futebol”, segundo Simoni. A Argentina tem uma situação diferente, com o nacionalismo se manifestando em muitas áreas, como na política e em conflitos territoriais, e por isso a “paixão pelos clubes” é tão forte como pela seleção nacional, acrescentou.

As diferenças se refletem na forma distinta de reagir diante do fracasso na atual Copa da África do Sul, disse Simoni. Enquanto os argentinos receberam “com festas sua seleção”, apesar de sair da competição após ser goleada por 4x0 pela Alemanha, os brasileiros reagiram “com pedras” contra seus jogadores, derrotados nas quartas de final pela Holanda, por 2x1. Curiosamente, esse nacionalismo ligado ao futebol no Brasil “nasceu de uma derrota”, quando perdeu a final da Copa de 1950 para o Uruguai, por 2x1, recordou Simoni. O trauma nacional, após a vitória uruguaia que jogou por terra o amplo favoritismo do Brasil, marcou a sociedade brasileira e, possivelmente por isso, vencer se tornou uma obsessão nacional.

O futebol, de todo modo, se tornou tão importante para a vida de milhares de milhões de seres humanos e um negócio tão gigantesco, que sua direção também tende a atrair a atenção não só de pesquisadores acadêmicos. O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, sugeriu limitar o tempo de mandato presidencial da CBF a oito anos, como faziam os sindicatos sob sua direção nos anos 70. Ricardo Teixeira, ex-genro de João Havelange, preside a entidade há 21 anos. E o suíço Blatter comanda a FIFA desde 1998. IPS/Envolverde

(IPS/Envolverde)

12 de jul. de 2010

PLEBISCITO POPULAR PELO LIMITE DA TERRA SERÁ REALIZADO EM SETEMBRO POR ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO FNRA

O Plebiscito Popular pelo limite da propriedade da terra será o ato concreto do povo brasileiro contra a concentração de terras no país, que é o segundo maior concentrador do mundo, perdendo apenas para o Paraguai. Esta consulta popular é fruto da Campanha Nacional pelo Limite da Propriedade da Terra, promovida pelo Fórum Nacional da Reforma Agrária e Justiça no Campo (FNRA) desde o ano 2000.

A campanha foi criada com o objetivo de conscientizar e mobilizar a sociedade brasileira sobre a necessidade e a importância de se estabelecer um limite para a propriedade. Mais de 50 entidades, organizações, movimentos e pastorais sociais que compõem o FNRA estão engajadas na articulação massiva em todos os estados da federação.

Cada cidadã e cidadão brasileiro será convidado a votar entre os dias 01 e 07 de setembro, durante a Semana da Pátria, junto com o Grito dos Excluídos, para expressar se concorda ou não com o limite da propriedade. O objetivo final é pressionar o Congresso Nacional para que seja incluída na Constituição Brasileira um novo inciso que limite a terra em 35 módulos fiscais, medida sugerida pela campanha do FNRA. Áreas acima de 35 módulos seriam automaticamente incorporadas ao patrimônio público e destinadas à reforma agrária.

"A Campanha da Fraternidade deste ano também propõe como gesto concreto de compromisso a participação no plebiscito pelo limite da propriedade. Um limite para a propriedade faz parte de uma nova ordem econômica a serviço da vida", afirmou Dirceu Fumagalli, membro da coordenação nacional da CPT. Para ele, uma consulta popular, mais do que obter resultados concretos com a votação, é um processo pedagógico importante de formação e conscientizaçã o do povo brasileiro sobre a realidade agrária. "São milhares de famílias acampadas à espera de uma reforma agrária justa. São índices crescentes da violência no campo. É o crescimento desordenado dos grandes centros urbanos. Tudo isso tem relação direta com a absurda concentração de terras no Brasil."

Segundo Luiz Claudio Mandela, membro da coordenação colegiada da Cáritas Brasileira, os promotores do plebiscito querem dialogar com a sociedade sobre a concentração de terras no Brasil. "Isso interfere na estrutura política, social, econômica e geográfica do país", ressaltou. De acordo com Mandela, durante toda a campanha estão sendo coletadas assinaturas para que esta proposta seja convertida em um projeto de iniciativa popular. "Para isso precisamos de, no mínimo, 1,5 milhão de assinaturas. Mas pretendemos superar esta meta."

Outras informações:
Por que limitar as propriedades de terra no Brasil?
Porque a pequena propriedade familiar, segundo dados do Censo Agropecuário do IBGE 2006:
- Produz a maior parte dos alimentos da mesa dos brasileiros: toda a produção de hortaliças, 87% da mandioca, 70% do feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 21% do trigo; 58% do leite, 59% dos suínos, 50% das aves.
- Emprega 74,4% das pessoas ocupadas no campo (as empresas do agronegócio só empregam 25,6% do total.)
- A cada cem hectares ocupa 15 pessoas (as empresas do agronegócio ocupam 1,7 pessoas a cada cem hectares).
- Os estabelecimentos com até 10 hectares apresentam os maiores ganhos por hectare, R$ 3.800,00.

Enquanto a concentração de terras no latifúndio e grandes empresas:
- Expulsa as famílias do campo, jogando-as nas favelas e áreas de risco das grandes cidades;
- É responsável pelos conflitos e a violência no campo. Nos últimos 25 anos, conforme a Comissão Pastoral da Terra (CPT):

1.546 trabalhadores foram assassinados e houve uma média anual de
2.709 famílias expulsas de suas terras!
13.815 famílias despejadas!
422 pessoas presas!
765 conflitos diretamente relacionados à luta pela terra!
92.290 famílias envolvidas em conflitos por terra!
Lança mão de relações de trabalho análogas ao trabalho escravo. Em 25 anos 2.438 ocorrências de trabalho escravo foram registradas, com 163 mil trabalhadores escravizados.

Procure por maiores informações em
www.limitedaterra.org.br

CRISE DE CIVILIZAÇÃO-UMA ANÁLISE SOCIOLÓGICA

Crise de Civilização não será resolvida com “retoques”, diz Sociólogo italiano

Marco Deriu, que defende o “decrescimento” econômico, considera que passo mais difícil é reverter imaginário de que felicidade é igual a acumular bens

Por: João Peres, Rede Brasil Atual

O Sociólogo italiano Marco Deriu espera que a sociedade contemporânea aprenda rapidamente a “desaprender” no que diz respeito aos modelos de civilização que guiam o atual imaginário econômico, político e cultural. Especializado em processos culturais, o professor do Departamento de Ciência Social e Política da Universidade de Parma entende que é preciso deixar de lado a palavra “desenvolvimento”, que, embora tenha gerado riqueza para alguns, provocou a ampliação das desigualdades e o esgotamento dos recursos naturais do planeta.

Em entrevista à Rede Brasil Atual, ele aponta que o conceito dos povos andinos sobre Bem Viver, ao romper com a ideia do desenvolvimento que não contempla o pleno respeito à natureza, contribui para reverter o imaginário desenvolvimentista e, de alguma maneira, entra em consonância com as correntes europeias que pregam o “decrescimento econômico”, com uma vida desapegada de consumo excessivo e que elimine as desigualdades sociais.
Confira a seguir a entrevista.

RBA - Quais suas impressões sobre os conceitos de Bem Viver?

Acredito que seja um conceito interessante porque pela primeira vez se propõe uma palavra que nos ajuda a sair do imaginário do desenvolvimento. Por 50 anos, seja os países mais ricos, seja os países do sul do mundo, foram colonizados por esse imaginário, que foi, podemos dizer, a religião da nossa modernidade, no sentido de que todos recursos econômicos, sociais, culturais e políticos foram destinados ao desenvolvimento e ao crescimento econômico.

Isto naturalmente criava muita riqueza, muitos proveitos, muito lucro, mas não uma condição de bem-estar real para todas as pessoas e, portanto, grande desigualdade, também novas formas de pobreza, grandes danos sociais e a exploração, seja do trabalhador, seja dos povos de outros territórios. O conceito de Bem Viver nos ajuda a repensar a possibilidade de uma forma de bem-estar, de uma forma de convivência através da melhora, sem dúvida, das nossas possibilidades, da educação, da saúde, mas não em uma “moldura” que é aquela do crescimento para o crescimento. Porque muito provavelmente é necessário pensar em uma ideia de riqueza que una diferentes aspectos: aquela material, (aquela) ecológica, (aquela) social, (aquela) espiritual, (aquela) cultural. Portando, eu acho que a ideia do Bem Viver nos ajuda a repensar os nossos objetivos sociais com uma ótica mais aberta, portanto mais nobre.

RBA - Há algum país que esteja tentando alcançar este conceito?

É difícil, acredito que muitos países do mundo estão à procura de formas alternativas de transformação social e econômica e, portanto, acho que em cada país podemos encontrar práticas políticas cotidianas que vão nesta direção, mas não acredito que exista um país que tenha assumido integralmente este objetivo.

Certo, alguns países da América Latina, o Equador e a Bolívia, fizeram algumas alterações também constitucionais, como os direitos da Mãe Terra, da Pachamama, os direitos dos animais. A pesquisa para um viver bem tem estado no centro de um projeto político, por isso acho que esses países estão tentando uma transformação neste sentido.

Talvez possamos citar um outro caso que é interessante porque provém não de uma escolha espontânea, mas de uma necessidade: Cuba, desde 1989, com o fim do apoio da União Soviética, isto é, quando acabou a possibilidade de receber petróleo, gasolina e muitos produtos, teve de reinventar uma forma de economia, de produção mais sóbria, menos baseada em fontes fósseis, menos baseada nas grandes riquezas, mais baseada em formas de autoprodução, de partilha, de reorganização social.

RBA - Como surgiram as discussões do conceito de decrescimento?

O movimento para o decrescimento nasceu na Europa. E é lógico que seja assim porque é uma teoria, digamos, reflexiva da parte dos países mais ricos, mais consumistas e com maior impacto ecológico.

Nasceu na França, se difundiu na Itália, Espanha, Dinamarca e aos poucos está se difundindo em diversos países, e devo dizer que é um movimento que está tendo muito sucesso. Nasceu em 2003, mais ou menos como um movimento, e agora se estão criando ocasiões de encontro e confronto, e portanto uma rede transnacional, que não diz respeito somente aos países singularmente.

Deste ponto de vista me parece que, obviamente, é um movimento até o momento extremamente minoritário, também porque, talvez, seja o primeiro movimento que diz coisas com certa sinceridade e radicalismo, isto é, não podemos continuar a nos iludirmos como fizemos até agora, chamando o desenvolvimento por sustentável. Existe um problema efetivo de diminuição da retirada de recursos das formas de produção e forma de consumo, portanto não se pode dizer que queremos aumentar o consumo, a produção, a extração de recursos, mas de modo sustentável, é uma “lorota”.

Naturalmente deve-se procurar uma união em torno das formas de produção e de consumo ao sustentável, mas não com o objetivo de crescimento, mas sim com objetivo de autolimitaçao. Portanto é um tema que está sendo difundido a nível dos movimentos sociais, mas é ainda quase um tabu a nivel de partidos políticos.

RBA - Temos um longo ano de discussões até chegar à COP-16, a reunião mundial que tratará de mudanças climáticas. Levando em conta a experiência da COP-15, que expectativas tem em relação a isso?

É difícil. Eu acredito que em termos gerais a questão fundamental é aquilo que eu disse antes, isto é, nos iludimos se pensamos em resolver o problema da crise ecológica atual, do aquecimento climático, o esgotamento dos recursos, a drástica queda da biodiversidade, simplesmente introduzindo qualquer inovação ou qualquer retoque, ou colocando alguns limites, sem enfrentar a necessidade de um radical “repensamento” do modelo econômico e social, que é construído sobre um crescimento contínuo. Portanto, a minha expectativa deste ponto de vista é pequena.

Vejo um percurso muito difícil porque eu concordo plenamente com aquilo que dizem os movimentos indígenas quando falam de crise de civilização. É este o problema, aqui não é apenas uma questão de introduzir alguns limites a mais, o que naturalmente é bem-vindo, mas de enfrentar a necessidade de uma maior transformação social. Por isso, espero que esses temas sejam novamente propostos, aprofundados, e é algo no qual é preciso muita coragem, porque objetivamente somos chamados hoje a desaprender muitos dos hábitos de vida, de consumo que temos construído nas ultimas décadas. Um personagem histórico, conhecido também aqui na América Latina, Bartolomeu de Las Casas, dizia que “desaprender é mais difícil que aprender”. Eu acredito que hoje nos encontramos nesta situação, isto é, deixar de ter nossos hábitos, nossa maneira de pensar, neste momento é a coisa mais difícil.

RBA - Governos como os de Silvio Berlusconi, primeiro-ministro de seu país, mostram o quão distante estamos de um novo modelo?

Eu acho que a Itália é um bom exemplo de que as pessoas estão ainda dentro do imaginário do desenvolvimento e do crescimento. Penso que muitas pessoas na Itália votam em Berlusconi porque representa a ideia de um homem rico, um homem que teve sucesso, e de um homem que pode subjugar todas as coisas, a justiça, a política, a cultura, aos seus interesses particulares.

E então há um tipo de adesão simbólica, embora talvez as políticas deste governo também estejam contra os interesses dessas pessoas que o votam. A Itália vive uma situação um tanto paradoxal, mas que acho que é paradigmática, isto é, as pessoas ainda sonham em se tornar mais ricas, a fim de aproveitar as suas posições, mesmo que a realidade social seja exatamente o oposto, ou seja, o desemprego crescente, aumento da precariedade, do isolamento, cada vez mais medo dos outros e da imigração. Enquanto nós não tivermos essa capacidade de reconhecer que a melhoria das condições de vida do nosso “bem viver” passa por um percurso coletivo, e não através de pesquisas individuais, competições, da maior vantagem possível para cada individuo, será difícil dar um passo à frente. Neste sentido, requer-se maior humildade, mas também uma maior capacidade de confiar no trabalho que está sendo construído com os outros.

Tradutora do áudio da entrevista: Carla de Oliveira Barros.