Sociólogo e professor de
Sociologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Márcio Franco possui
pós-graduação em Educação Ambiental, em Psicopedagogia e em Gestão Educacional.
Fez mestrado em Educação na UERJ e mestrado em Psicopedagogia pela Universidade
de Havana. Leciona Sociologia, Geografia e disciplinas pedagógicas na Educação
Básica e Superior. Atualmente, leciona na Fundação de Apoio à Escola Técnica do
Estado do Rio de Janeiro e na Secretaria Municipal de Educação da cidade do Rio
de Janeiro. É diretor do Sindicato dos Sociólogos do Estado do RJ.
CONTE-NOS SUA TRAJETÓRIA COM
RELAÇÃO À OPÇÃO DE TORNAR-SE SOCIÓLOGO E AO MESMO TEMPO PROFESSOR DE
SOCIOLOGIA.
Todos os testes vocacionais
que fiz, antes de entrar na faculdade, apresentaram inclinações para todas as
áreas: saúde, humanas e tecnológica. As psicólogas e pedagogas que me
entrevistavam, depois de aplicados os testes, sempre se mostraram intrigadas
com isso. Eu também nunca me considerei com inclinação para uma área
específica. Quando chegou a ocasião da inscrição no vestibular, após o estudo
da matriz curricular de quase todos os cursos, percebi que o de Ciências
Sociais, em especial o da UERJ, era o mais amplo. Tínhamos Sociologia,
Antropologia e Ciência Política durante os quatro anos do curso, três anos de
Economia, dois de História Geral, um de História do Brasil, História da Arte,
Relações Internacionais, Geografia e Psicologia Social, e outras disciplinas,
como Metodologia da Pesquisa, Estatística, Matemática, etc., além das disciplinas
de Pedagogia, na licenciatura. O bacharelado podia ser feito concomitantemente
com a licenciatura. Aí não tive dúvidas: optei por Ciências Sociais.
COMO VOCÊ TEM CONHECIMENTO,
TRAVAMOS UMA LUTA QUE DUROU 11 ANOS - 1997 A 2008 - PARA MUDAR A LDB DE FORMA A
DAR-LHE UMA REDAÇÃO ENFÁTICA SOBRE A OBRIGATORIEDADE DO ENSINO DA SOCIOLOGIA
NAS ESCOLAS DE NÍVEL MÉDIO. QUE BALANÇO VOCÊ FAZ SOBRE ISSO EM PLANO NACIONAL?
A Lei que emendou a LDB, de
nº 11.684 de 2008, que torna o ensino de Sociologia obrigatório nos três anos
do Ensino Médio, foi sem dúvida, uma importante conquista. Passados esses
primeiros anos, penso que é necessário que seja feito um amplo levantamento
para podermos saber a situação da implantação da Sociologia nos estados.
Precisamos saber qual é o currículo, número de horas/ aula, condições de
trabalho desses professores (as), o seu perfil, qual a posição deles quanto aos
livros didáticos aprovados pelo MEC. Considero que é necessário que os alunos
opinem sobre o ensino de Sociologia. Em outras palavras, precisamos fazer um
estudo sério para sabermos como anda o ensino de Sociologia na Educação Básica
pelo Brasil.
Lamentavelmente, depois de
mais de 20 anos de luta, no dia 1º de dezembro de 2011, a sociedade fluminense
viu publicada no Diário Oficial do Estado a redução da carga horária das
disciplinas de Sociologia e Filosofia a partir de 2012, comprometendo
seriamente a qualidade do trabalho duramente desenvolvido por docentes e
discentes da rede estadual
COMO ANDA A IMPLANTAÇÃO DAS
AULAS DE SOCIOLOGIA NO ESTADO DO RJ ? FALE-NOS SOBRE A CARGA HORÁRIA SEMANAL,
PROGRAMA, FORMAÇÃO DOCENTE, REMUNERAÇÃO.
A disciplina de Sociologia,
no Ensino Médio, existe desde 1989 quando foi promulgada a Constituição
Estadual. Contudo, ela não era obrigatória nos três anos do Ensino Médio, nem
no setor privado de ensino. Ela só era ministrada nas redes públicas, mantidas
pelo governo do Estado, no Ensino Médio regular, nas escolas da Secretaria de
Educação (SEEDUC), e no Ensino Médio técnico, nas escolas da Fundação de Apoio
à Escola Técnica (FAETEC). Em 2008, ano de fundação do SINDSERJ, realizamos uma
Audiência Pública na Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Estado,
a ALERJ, para debatermos a obrigatoriedade da Sociologia nos três anos, que
contou com a participação do Sinpro-Rio - Sindicato dos Professores do
Município do Rio de Janeiro, SEPE/RJ - Sindicato dos Profissionais de Educação
do Estado e da APSERJ - Associação Profissional dos Sociólogos. No mesmo ano,
promovemos na FAETEC um fórum de entidades para discutir essa questão.
Em 2010, realizamos no
Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro (ISERJ), o I Fórum Estadual de
Professores de Sociologia do Rio de Janeiro, com a participação do
Sinpro-Rio, ADCPII, ADESA, Analítica, regionais do SEPE, dentre outras entidades.
Esse fórum contou com importantes palestrantes, como: Amaury César Moraes, Luiz
Fernandes de Oliveira, Célia Regina Neves da Silva, Ricardo César Rocha da
Costa, Ricardo Emmanuel Ismael de Carvalho, Rosana da Câmara Teixeira, Magna
Corrêa de Lima Duarte dentre outros. Considero que esses eventos contribuíram
para o avanço da nossa luta.
Lamentavelmente, depois de
mais de 20 anos de luta, no dia 1º de dezembro de 2011, a sociedade fluminense
viu publicada no Diário Oficial do Estado a redução da carga horária das
disciplinas de Sociologia e Filosofia a partir de 2012. Com esta medida, a
SEEDUC-RJ as mutilou na razão de cinco para quatro tempos cumulativos ao longo
do Ensino Médio regular e de quatro para três tempos no Ensino de Jovens e
Adultos (EJA), comprometendo seriamente a qualidade do trabalho duramente
desenvolvido por docentes e discentes da rede estadual.
Fico preocupado com a
criação de uma entidade sem a ampla participação de professores (as) que
enfrentam o dia a dia da educação nas mais difíceis condições de trabalho.
Espanta-me ver colegas defendendo a mobilização apenas pela internet até
agora. Até onde eu sei, o movimento pela criação da ABECS possui pouco
mais de 250 pessoas em uma lista de discussão na internet, em um grupo do
Google.
No dia 14 do mesmo mês, na
Audiência Pública da Comissão de Educação da ALERJ, onde o secretário estadual
de Educação foi convocado para apresentar um balanço da sua gestão, o SEPE e o
SINDSERJ, em conjunto com a representação dos colegas do Colégio Pedro II, se
pronunciaram contra tal medida. O Departamento de Sociologia do Colégio Pedro
II distribuiu Carta Aberta repudiando a redução das cargas horárias de
Sociologia e Filosofia das escolas da SEEDUC, bem como o SINDSERJ, o que gerou
impacto na reunião que, inicialmente, não estava prevista para discutir essa
questão. O SEPE também se pronunciou sobre a redução, além de apontar graves
problemas na atual gestão da SEEDUC, tendo sido bastante contundente.
O compromisso do então
presidente da Comissão de Educação, deputado Comte Bittencourt, foi o de
promover nova audiência, quando do reinício dos trabalhos legislativos nesse
ano, para debater o ensino de Sociologia e Filosofia. O presidente do SINDSERJ,
Nilton Soares, já foi às assembleias do Sinpro-Rio e do SEPE/RJ, entrou em
contato com o FETEERJ, federação estadual que reúne as entidades de professores
do setor privado de ensino e já solicitou uma audiência pública para tratar
dessa questão, em conjunto com as entidades representativas dos professores da
rede pública e do setor privado do Rio.
HÁ UM MOVIMENTO ENTRE
SOCIÓLOGOS E PESQUISADORES, DE ROMPIMENTO COM A SOCIEDADE BRASILEIRA DE
SOCIOLOGIA (SBS) COM O ARGUMENTO DE QUE ELA NÃO VALORIZA O ENSINO DE SOCIOLOGIA
NAS ESCOLAS. ISSO É VERDADEIRO? COMO SERÁ O PROCESSO DA FUNDAÇÃO DE UMA
POSSÍVEL NOVA ENTIDADE, QUE PODERÁ CHAMAR-SE SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENSINO DE
SOCIOLOGIA OU DE CIÊNCIAS SOCIAIS? QUANDO SERÁ A FUNDAÇÃO, ONDE E COMO SE DARÁ
ESSE PROCESSO?
Eu não diria que há um
movimento, necessariamente, de rompimento. O que existe é a necessidade de se
aprofundar o debate e a pesquisa sobre o ensino de Sociologia, envolvendo
professores da Educação Superior e da Educação Básica. Considero que um
movimento de tal natureza e de tamanha envergadura deva ser amplo e inclusivo.
A proposta de criação da Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais
(ABECS) deve envolver os professores de Sociologia da Educação Básica. Para
tanto, é necessário que sejam criados instrumentos de diálogo com esses
professores que estão nas escolas, além de se envolver as entidades
representativas dos professores, em especial, as confederações nacionais, a
CNTE e a CONTEE, que representam os professores da rede pública e do setor
privado do Brasil, respectivamente. Não podemos pensar em discutir educação sem
as entidades representativas que possuem décadas de luta e de mobilização.
Fico preocupado com a
criação de uma entidade sem a ampla participação de professores (as) que
enfrentam o dia a dia da Educação nas mais difíceis condições de trabalho.
Possuo 31 anos de dedicação ao magistério. Sempre atuei em sala de aula, mesmo
quando fui diretor de colégio estadual, na Baixada Fluminense. Nunca deixei a
sala de aula. Fico espantado em ver colegas defendendo a mobilização apenas
pela internet, até agora. Até onde eu sei, o movimento pela criação da ABECS
possui pouco mais de 250 pessoas em uma lista de discussão na internet, em um
grupo do Google. Se quisermos criar uma entidade representativa que possa ter
força para enfrentar os grandes desafios da Educação, temos que ir até onde os
professores estão: as escolas! A associação já tem data marcada para ser
fundada. Será no dia 11 de maio, sexta-feira, à tarde, no Colégio Pedro II, na
unidade do centro da Cidade do Rio de Janeiro, Avenida Marechal Floriano, nº
80.
OS SOCIÓLOGOS BRASILEIROS,
COMO SABE, DESDE A EDIÇÃO DA LEI 6.888 DE 10 DE DEZEMB RO DE 1980 - E JÁ SE
FORAM 31 ANOS! - NÃO POSSUEM CONSELHO FEDERAL, NEM OS REGIONAIS DE SOCIÓLOGOS.
COMO VOCÊS DO SINDSERJ ENTENDEM QUE DEVERIAM SER ORGANIZADOS TAIS CONSELHOS?
SOB QUAL NOMENCLATURA? HÁ ESPERANÇA DO GOVERNO DILM A RECONHECER TAIS
CONSELHOS, QUE SÃO AUTARQUIAS FEDERAIS?
Ainda não estou convencido
da necessidade da criação do Conselho Federal de Sociólogos. Todos os
argumentos favoráveis que li e ouvi, até agora, não demonstram a necessidade
premente de um conselho. Mas que fique claro que o SINDSERJ não possui posição
sobre isso.
Se fosse criado, hoje, qual
seria a representatividade de um conselho de uma categoria que não se encontra
organizada em todos os estados? Mesmo nos grandes estados, qual é o grau de
organização da categoria? Já vi conselhos serem criados de cima para baixo e
hoje se apresentam como um problema para a categoria que, em tese, representam
ou deveriam representar. Não vou citar exemplos porque a lista seria, talvez,
extensa. Um conselho sem representatividade é tudo o que os sociólogos não
precisam!
POR FIM, FALE-NOS SOBRE O
TRABALHO DO SINDSERJ E QUAIS SÃO AS PROPOSTAS DE SUA ENTIDADE EM PLANO NACIONAL
PARA A REORGANIZAÇÃO DOS SOCIÓLOGOS BRASILEIROS.
Quando ocorreu o Congresso
da Federação Nacional de Sociólogos, em Natal, a diretoria da primeira gestão,
decidiu comparecer e os relatos foram demasiadamente frustrantes. Atualmente,
nos mantemos distantes da Federação. Mas, pessoalmente, fico perplexo em
assistir a uma entidade, que se propõe nacional, adotar bandeiras de luta
distantes das aspirações dos sociólogos. Só leio informações sobre o SUAS. Não
vejo nenhuma iniciativa voltada para a promoção de um debate amplo sobre a
formação do sociólogo, o mercado de trabalho e o ensino de Sociologia. Uma
entidade nacional deve ser capaz de promover conferências, fóruns, seminários,
congressos nacionais sobre as questões mais candentes que envolvem a profissão
do sociólogo. Ela deve ser plural, democrática e estimular a participação de
todos. Ela tem que ser representativa de todos. Isso me parece ainda ser um
sonho distante! Contudo, paradoxalmente, o movimento dos sociólogos tem
avançado em vários estados, mesmo que isoladamente. Por isso, temos a vontade
de contribuir para a construção de um movimento nacional dos sociólogos que
seja representativo e unitário de fato.
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