Por
Rogério Cezar de Cerqueira Leite, na coluna de debates da Folha de São Paulo
Dois
artigos publicados recentemente pela revista britânica “Nature”, especializada
em ciência, deixam o Brasil e, em especial, a comunidade acadêmica brasileira,
profundamente envergonhados.
A
“Nature” nos acusa, em primeiro lugar, de produzir mais lixo do que
conhecimento em ciência. Nas revistas mais severas quanto à qualidade de
ciência, selecionadas como de excelência pelo periódico, cientistas brasileiros
preenchem apenas 1% das publicações.
Quando
se incluem revistas menos qualificadas, porém, ainda incluídas dentre as
indexadas, o Brasil se responsabiliza por 2,5%. O que a “Nature” generosamente
omite são as publicações em revistas não indexadas, que contêm número significativo
de publicações brasileiras, um verdadeiro lixo acadêmico.
O
segundo golpe humilhante para a ciência brasileira exposto pela revista se
refere à eficiência no uso de recursos aplicados à pesquisa. Dentre 53 países
analisados, o Brasil está em 50º lugar. Melhor apenas que Egito, Turquia e
Malásia.
Tomemos
um exemplo. O Brasil publicou 670 artigos em revistas de grande prestígio,
enquanto no mesmo período o Chile publicou 717, nessas mesmas revistas. O dado
profundamente inquietante é que enquanto o Brasil despendeu em ciência US$ 30
bilhões, o Chile gastou apenas US$ 2 bilhões.
Quer
dizer, o Chile, que aliás não está entre os primeiros em eficiência no mundo
científico, é 15 vezes mais eficiente que o Brasil. Alguma coisa está errada,
profundamente errada. A academia brasileira, isto é, universidades e institutos
de pesquisas produzem mais pesquisa de baixa do que de boa qualidade e as
produz a custos muito elevados. Há certamente causas, talvez muitas, para essa
inadequação.
A
primeira decorre de um “distributivismo” demagógico. É evidente que seria
desejável que novos centros de pesquisas se desenvolvessem em regiões ainda não
desenvolvidas do país. Mas é um erro crasso esperar que uma atividade de
pesquisas qualquer venha a desenvolver economicamente uma região sem cultura
adequada para conviver com essa pesquisa.
Seria
desejável que investimentos maciços fossem aplicados em pesquisas em
instituições localizadas em regiões pouco desenvolvidas, mas cujo meio ambiente
é capaz de absorver os benefícios dessa inserção.
O
segundo mal que é causa inquestionável da diminuta e dispendiosa produção de
conhecimento é o obsoleto regime de trabalho que regula a mão de obra do setor
de pesquisas em universidades públicas e na maioria dos institutos.
O pesquisador faz um concurso –frequentemente falsificado– no começo de
sua carreira. Torna-se vitalício. Quase sempre não precisa trabalhar para ter
aumento de salário e galgar postos em sua carreira. Ora, qual seria, então, a
motivação para fazer pesquisas?
O
terceiro problema é o sistema de gestão de universidades públicas e
instituições de pesquisa, cuja burocracia soterra qualquer iniciativa dos
poucos bem-intencionados professores e pesquisadores que ainda não esmoreceram.
Pois
bem. Há uma fórmula que evita todos esses males e que já foi experimentada com
sucesso em algumas das instituições científicas do Brasil: a organização
social. A resistência dos medíocres e parasitas e a falta de coragem política
de algumas de nossas autoridades impedem a solução desse problema.
Rogério
Cezar de Cerqueira Leite é físico e professor emérito da Unicamp e membro do
Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia e do Conselho Editorial da Folha
Fonte: Blog do Jamildo
Comentários de Carmem: Realmente não é de hoje que o Brasil não ocupa posições de destaque na produção técnico-científica! Basta olharmos os índices bianuais de avaliação internacional das instituições de ensino superiores brasileiras (QS TOPUNIVERSITIES que pode ser acessado pelo link http://www.topuniversities.com/university-rankings/world-university-rankings/2014#sorting=rank+region=+country=+faculty=+stars=false+search=) para vermos que o Brasil só começa a aparecer nos seguintes perfis de posição: em 2013/2014 o Brasil só começa a pontuar com a USP na posição 127 e em 2014/2015 o Brasil só começa a pontuar também com a USP porém na posição 132, mostrando assim que em vez de progredir está retrocedendo! Mas, na Ilha da Fantasia do marketing político chamada Brasil o nosso País vai muito bem, sendo "exemplo" em muitas coisas inclusive na educação não é mesmo? ACORDA BRASILEIRO(A)!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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