Fórum Brasil
Paul Krugman: "O Brasil está se saindo muito
bem"
Em evento de CartaCapital, Nobel de Economia lembrou que os mercados se
apaixonam e desapaixonam por países em desenvolvimento, de forma sazonal
por Márcia Pinheiro — publicado 18/03/2014
11:39, última modificação 18/03/2014 14:44
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André Luy
O economista Paul Krugman em
sua palestra no Fórum Brasil: Diálogos para o Futuro
O economista norte-americano e Prêmio Nobel Paul Krugman disse nesta
terça-feira 18 que o Brasil não enfrenta tantos problemas hoje em dia. “É
importante olhar para trás de vez em quando e entender que momento de desastre
nós passamos”, disse Krugman ao abrir o evento "Fórum Brasil - Diálogos
para o Futuro", de CartaCapital, em São Paulo. “Enfrentamos o segundo maior desastre da história. O
primeiro foi a Grande Depressão. A crise recente afetou seriamente o Produto
Interno Bruto (PIB) das economias desenvolvidas. O crescimento agora persiste
lento, após o auge da crise de 2008/2009.”
No evento, Krugman
lembrou que a Comissão Europeia considera um crescimento de 1% na região, em
vez de 0,5%, o que pode ser visto como a “medida do sucesso agora”. "A
catástrofe foi evitada, mas o crescimento dos países avançados é ainda vagaroso",
disse ele, antes de lembrar que a recuperação econômica de hoje é mais lenta
quando se compara com a referente à crise de 1929.
Ao analisar a
crise posterior em distintas regiões do mundo, o economista contou ter se
surpreendido com a profundidade do comprometimento político dos países de moeda
única, como a Grécia. No entanto, afirmou, o problema fundamental da política é
a resposta comum dos países avançados com a política monetária - não totalmente
eficaz, dadas as condições das economias. “A questão é: o que fazer para
reanimar a atividade com taxa de juros zero ou negativa? As políticas fiscais
poderiam ser usadas para complementar a monetária, mas isso era impossível
tanto na Europa, por causa da Alemanha, como nos Estados Unidos, em função da
oposição dos republicanos”, lembrou. “Uma política monetária não convencional
não foi tão efetiva como se esperava. Há um processo de nos habituarmos com
esta situação econômica fraca e reduzirmos nossas expectativas. Estamos em
risco de deflação? Talvez.”
Sobre o problema
da dívida dos países, Krugman fez o diagnóstico: “A Europa já está na situação
japonesa”, afirmou ao se referir ao baixo crescimento com baixa inflação. “Há
um jargão para isso: a estagnação secular. Nos EUA, tivemos duas bolhas
recentemente: da tecnologia e das hipotecas. No auge dessas bolhas, havia pleno
emprego e inflação sob controle.”
Ele lembrou ainda
que o nível de investimentos está caindo, pois agora o crescimento populacional
é mais vagaroso. Além disso, ressaltou, a tecnologia emprega pouco. “Um quadro
que também piora o nível de endividamento dos países avançados.”
FED. Durante sua
palestra ainda o economista norte-americano apontou que a presidente do Federal
Reserve, Janet Yellen, é “dovish” (pacifista, em tradução livre) na questão das
taxas de juros. “A taxa real de juros dos títulos de dez anos está 1%, e perto
de zero na Europa. Por isso, os retornos estão muito baixos”, observou.
"Então, há dinheiro vagando à procura de remunerações mais atraentes. Isso
acaba gerando bolhas, como está ocorrendo. O que tende a ser uma preocupação
para os mercados emergentes, os chamados Brics (Brasil, Índia, China e África
do Sul)". Segundo Krugman, nestes países o retorno dos investimentos é
bom. No Brasil, por exemplo, a taxa de câmbio efetiva sofreu na crise de 2008,
mas os investidores voltaram e depois perceberam que as expectativas eram
superiores à realidade. "Os mercados se apaixonaram por alguns países em
desenvolvimento. Depois, se desapaixonaram, como ocorre sazonalmente. Agora, o
momento é do México", afirmou.
Segundo Krugman,
economias emergentes, como a brasileira, têm se mostrado mais resilientes. Com
o fim do problema de dívida externa, o Brasil tem menos exposição ao câmbio,
tem mais estabilidade, com a inflação sob controle e a política fiscal mais
responsável. As corporações brasileiras, por meio de entidades offshore,
tomaram muito empréstimo externo no valor de 300 bilhões de dólares, que é
menos de 15% do PIB, lembrou, o que também não preocupa. “O Brasil exporta
primariamente commodities e vai sofrer com a desaceleração da China. Não
estamos falando de catástrofe, mas algo que pode ser manejável.”
O que preocupa é a
China, disse Krugman, “mesmo porque as estatísticas não são totalmente
confiáveis”. “Este país não vai crescer às mesmas taxas, os investimentos serão
reduzidos", alertou ao fazer um diagnóstico da China e, consequentemente,
do Brasil. "A China precisa mudar a proporção entre investimento e
consumo. Já o Brasil está se saindo muito bem”, concluiu.
*Editora da Envolverde, especial para CartaCapital
Diálogos
Capitais
Fórum Brasil
Delfim Netto: "Temos de fortalecer o Estado
brasileiro"
Segundo o ex-ministro da Fazenda e da Agricultura, o Brasil precisa
aumentar a participação na economia mundial
por Márcia Pinheiro — publicado 18/03/2014
12:10, última modificação 19/03/2014 05:21
André Luy
Ao lado do economista Paul
Krugman (e), Delfim Netto (d) participa de evento de CartaCapital sobre o
futuro do Brasil
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Em sua participação no "Fórum Brasil: Diálogos para o Futuro", o
ex-ministro Delfim Netto (Fazenda e Agricultura) disse que o economista Paul
Krugman deu a todos uma lição muito interessante. “Temos o ônus e o bônus de
estar neste momento. Afinal, se espera um crescimento um pouco maior no
Brasil”, afirmou nesta terça-feira 18.
De acordo com o ex-ministro, os mercados são voláteis, “apaixonam-se muito
depressa e se desapaixonam também”. Por isso, ser um "queridinho"
hoje não significa que continuará sendo amanhã. Ao contrário: “Nós vamos ter de
repensar nossa economia. Temos de aumentar participação na economia mundial”,
alertou. “Não há nenhuma tragédia iminente. Temos relação dívida bruta/PIB de
60%, isso há dez anos.”
Delfim Netto observou ainda que não há risco de descontrole da inflação,
ainda que o Brasil tenha errado com mecanismos de controle de preços.
Por outro lado, ele criticou o fato de o governo controlar as tarifas de
energia à custa do Tesouro Nacional. “Não temos ainda o pecado capital de ter
dívida em dólar”, disse. “Não devemos esperar nada entusiasmante do exterior.”
E concluiu: “Se quisermos construir nosso desenvolvimento, temos de ter um
Estado forte, constitucionalmente constituído, para controlar os mercados.
Devemos pensar os nossos problemas para resolvê-los.”
*Editora da Envolverde, especial para CartaCapital
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