CIÊNCIAS SOCIAIS

CIÊNCIAS SOCIAIS

14 de jun. de 2012

MOMENTO ATUAL DA SOCIOLOGIA BRASILEIRA


Filosofia
Sociólogos & Sociologia
Na linha de frente
Desde a obrigatoriedade legal do ensino de Sociologia, estimamos que mais de trinta mil professores atuam nas escolas de Ensino Médio no País. Nesta entrevista, conversamos com o sociólogo e professor Márcio Franco
Por Lejeune Mato Grosso de Carvalho

divulgação

Sociólogo e professor de Sociologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Márcio Franco possui pós-graduação em Educação Ambiental, em Psicopedagogia e em Gestão Educacional. Fez mestrado em Educação na UERJ e mestrado em Psicopedagogia pela Universidade de Havana. Leciona Sociologia, Geografia e disciplinas pedagógicas na Educação Básica e Superior. Atualmente, leciona na Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro e na Secretaria Municipal de Educação da cidade do Rio de Janeiro. É diretor do Sindicato dos Sociólogos do Estado do RJ.
CONTE-NOS SUA TRAJETÓRIA COM RELAÇÃO À OPÇÃO DE TORNAR-SE SOCIÓLOGO E AO MESMO TEMPO PROFESSOR DE SOCIOLOGIA.
Todos os testes vocacionais que fiz, antes de entrar na faculdade, apresentaram inclinações para todas as áreas: saúde, humanas e tecnológica. As psicólogas e pedagogas que me entrevistavam, depois de aplicados os testes, sempre se mostraram intrigadas com isso. Eu também nunca me considerei com inclinação para uma área específica. Quando chegou a ocasião da inscrição no vestibular, após o estudo da matriz curricular de quase todos os cursos, percebi que o de Ciências Sociais, em especial o da UERJ, era o mais amplo. Tínhamos Sociologia, Antropologia e Ciência Política durante os quatro anos do curso, três anos de Economia, dois de História Geral, um de História do Brasil, História da Arte, Relações Internacionais, Geografia e Psicologia Social, e outras disciplinas, como Metodologia da Pesquisa, Estatística, Matemática, etc., além das disciplinas de Pedagogia, na licenciatura. O bacharelado podia ser feito concomitantemente com a licenciatura. Aí não tive dúvidas: optei por Ciências Sociais.
COMO VOCÊ TEM CONHECIMENTO, TRAVAMOS UMA LUTA QUE DUROU 11 ANOS - 1997 A 2008 - PARA MUDAR A LDB DE FORMA A DAR-LHE UMA REDAÇÃO ENFÁTICA SOBRE A OBRIGATORIEDADE DO ENSINO DA SOCIOLOGIA NAS ESCOLAS DE NÍVEL MÉDIO. QUE BALANÇO VOCÊ FAZ SOBRE ISSO EM PLANO NACIONAL?
A Lei que emendou a LDB, de nº 11.684 de 2008, que torna o ensino de Sociologia obrigatório nos três anos do Ensino Médio, foi sem dúvida, uma importante conquista. Passados esses primeiros anos, penso que é necessário que seja feito um amplo levantamento para podermos saber a situação da implantação da Sociologia nos estados. Precisamos saber qual é o currículo, número de horas/ aula, condições de trabalho desses professores (as), o seu perfil, qual a posição deles quanto aos livros didáticos aprovados pelo MEC. Considero que é necessário que os alunos opinem sobre o ensino de Sociologia. Em outras palavras, precisamos fazer um estudo sério para sabermos como anda o ensino de Sociologia na Educação Básica pelo Brasil.
Lamentavelmente, depois de mais de 20 anos de luta, no dia 1º de dezembro de 2011, a sociedade fluminense viu publicada no Diário Oficial do Estado a redução da carga horária das disciplinas de Sociologia e Filosofia a partir de 2012, comprometendo seriamente a qualidade do trabalho duramente desenvolvido por docentes e discentes da rede estadual
COMO ANDA A IMPLANTAÇÃO DAS AULAS DE SOCIOLOGIA NO ESTADO DO RJ ? FALE-NOS SOBRE A CARGA HORÁRIA SEMANAL, PROGRAMA, FORMAÇÃO DOCENTE, REMUNERAÇÃO.
A disciplina de Sociologia, no Ensino Médio, existe desde 1989 quando foi promulgada a Constituição Estadual. Contudo, ela não era obrigatória nos três anos do Ensino Médio, nem no setor privado de ensino. Ela só era ministrada nas redes públicas, mantidas pelo governo do Estado, no Ensino Médio regular, nas escolas da Secretaria de Educação (SEEDUC), e no Ensino Médio técnico, nas escolas da Fundação de Apoio à Escola Técnica (FAETEC). Em 2008, ano de fundação do SINDSERJ, realizamos uma Audiência Pública na Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Estado, a ALERJ, para debatermos a obrigatoriedade da Sociologia nos três anos, que contou com a participação do Sinpro-Rio - Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro, SEPE/RJ - Sindicato dos Profissionais de Educação do Estado e da APSERJ - Associação Profissional dos Sociólogos. No mesmo ano, promovemos na FAETEC um fórum de entidades para discutir essa questão.
Em 2010, realizamos no Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro (ISERJ), o I Fórum Estadual de   Professores de Sociologia do Rio de Janeiro, com a participação do Sinpro-Rio, ADCPII, ADESA, Analítica, regionais do SEPE, dentre outras entidades. Esse fórum contou com importantes palestrantes, como: Amaury César Moraes, Luiz Fernandes de Oliveira, Célia Regina Neves da Silva, Ricardo César Rocha da Costa, Ricardo Emmanuel Ismael de Carvalho, Rosana da Câmara Teixeira, Magna Corrêa de Lima Duarte dentre outros. Considero que esses eventos contribuíram para o avanço da nossa luta.
Lamentavelmente, depois de mais de 20 anos de luta, no dia 1º de dezembro de 2011, a sociedade fluminense viu publicada no Diário Oficial do Estado a redução da carga horária das disciplinas de Sociologia e Filosofia a partir de 2012. Com esta medida, a SEEDUC-RJ as mutilou na razão de cinco para quatro tempos cumulativos ao longo do Ensino Médio regular e de quatro para três tempos no Ensino de Jovens e Adultos (EJA), comprometendo seriamente a qualidade do trabalho duramente desenvolvido por docentes e discentes da rede estadual.
Fico preocupado com a criação de uma entidade sem a ampla participação de professores (as) que enfrentam o dia a dia da educação nas mais difíceis condições de trabalho. Espanta-me ver colegas defendendo a mobilização apenas pela internet até agora. Até onde eu sei, o movimento pela criação da ABECS possui pouco mais de 250 pessoas em uma lista de discussão na internet, em um grupo do Google.
No dia 14 do mesmo mês, na Audiência Pública da Comissão de Educação da ALERJ, onde o secretário estadual de Educação foi convocado para apresentar um balanço da sua gestão, o SEPE e o SINDSERJ, em conjunto com a representação dos colegas do Colégio Pedro II, se pronunciaram contra tal medida. O Departamento de Sociologia do Colégio Pedro II distribuiu Carta Aberta repudiando a redução das cargas horárias de Sociologia e Filosofia das escolas da SEEDUC, bem como o SINDSERJ, o que gerou impacto na reunião que, inicialmente, não estava prevista para discutir essa questão. O SEPE também se pronunciou sobre a redução, além de apontar graves problemas na atual gestão da SEEDUC, tendo sido bastante contundente.
O compromisso do então presidente da Comissão de Educação, deputado Comte Bittencourt, foi o de promover nova audiência, quando do reinício dos trabalhos legislativos nesse ano, para debater o ensino de Sociologia e Filosofia. O presidente do SINDSERJ, Nilton Soares, já foi às assembleias do Sinpro-Rio e do SEPE/RJ, entrou em contato com o FETEERJ, federação estadual que reúne as entidades de professores do setor privado de ensino e já solicitou uma audiência pública para tratar dessa questão, em conjunto com as entidades representativas dos professores da rede pública e do setor privado do Rio.
HÁ UM MOVIMENTO ENTRE SOCIÓLOGOS E PESQUISADORES, DE ROMPIMENTO COM A SOCIEDADE BRASILEIRA DE SOCIOLOGIA (SBS) COM O ARGUMENTO DE QUE ELA NÃO VALORIZA O ENSINO DE SOCIOLOGIA NAS ESCOLAS. ISSO É VERDADEIRO? COMO SERÁ O PROCESSO DA FUNDAÇÃO DE UMA POSSÍVEL NOVA ENTIDADE, QUE PODERÁ CHAMAR-SE SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENSINO DE SOCIOLOGIA OU DE CIÊNCIAS SOCIAIS? QUANDO SERÁ A FUNDAÇÃO, ONDE E COMO SE DARÁ ESSE PROCESSO?
Eu não diria que há um movimento, necessariamente, de rompimento. O que existe é a necessidade de se aprofundar o debate e a pesquisa sobre o ensino de Sociologia, envolvendo professores da Educação Superior e da Educação Básica. Considero que um movimento de tal natureza e de tamanha envergadura deva ser amplo e inclusivo. A proposta de criação da Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais (ABECS) deve envolver os professores de Sociologia da Educação Básica. Para tanto, é necessário que sejam criados instrumentos de diálogo com esses professores que estão nas escolas, além de se envolver as entidades representativas dos professores, em especial, as confederações nacionais, a CNTE e a CONTEE, que representam os professores da rede pública e do setor privado do Brasil, respectivamente. Não podemos pensar em discutir educação sem as entidades representativas que possuem décadas de luta e de mobilização.
Fico preocupado com a criação de uma entidade sem a ampla participação de professores (as) que enfrentam o dia a dia da Educação nas mais difíceis condições de trabalho. Possuo 31 anos de dedicação ao magistério. Sempre atuei em sala de aula, mesmo quando fui diretor de colégio estadual, na Baixada Fluminense. Nunca deixei a sala de aula. Fico espantado em ver colegas defendendo a mobilização apenas pela internet, até agora. Até onde eu sei, o movimento pela criação da ABECS possui pouco mais de 250 pessoas em uma lista de discussão na internet, em um grupo do Google. Se quisermos criar uma entidade representativa que possa ter força para enfrentar os grandes desafios da Educação, temos que ir até onde os professores estão: as escolas! A associação já tem data marcada para ser fundada. Será no dia 11 de maio, sexta-feira, à tarde, no Colégio Pedro II, na unidade do centro da Cidade do Rio de Janeiro, Avenida Marechal Floriano, nº 80.
OS SOCIÓLOGOS BRASILEIROS, COMO SABE, DESDE A EDIÇÃO DA LEI 6.888 DE 10 DE DEZEMB RO DE 1980 - E JÁ SE FORAM 31 ANOS! - NÃO POSSUEM CONSELHO FEDERAL, NEM OS REGIONAIS DE SOCIÓLOGOS. COMO VOCÊS DO SINDSERJ ENTENDEM QUE DEVERIAM SER ORGANIZADOS TAIS CONSELHOS? SOB QUAL NOMENCLATURA? HÁ ESPERANÇA DO GOVERNO DILM A RECONHECER TAIS CONSELHOS, QUE SÃO AUTARQUIAS FEDERAIS?
Ainda não estou convencido da necessidade da criação do Conselho Federal de Sociólogos. Todos os argumentos favoráveis que li e ouvi, até agora, não demonstram a necessidade premente de um conselho. Mas que fique claro que o SINDSERJ não possui posição sobre isso.
Se fosse criado, hoje, qual seria a representatividade de um conselho de uma categoria que não se encontra organizada em todos os estados? Mesmo nos grandes estados, qual é o grau de organização da categoria? Já vi conselhos serem criados de cima para baixo e hoje se apresentam como um problema para a categoria que, em tese, representam ou deveriam representar. Não vou citar exemplos porque a lista seria, talvez, extensa. Um conselho sem representatividade é tudo o que os sociólogos não precisam!
POR FIM, FALE-NOS SOBRE O TRABALHO DO SINDSERJ E QUAIS SÃO AS PROPOSTAS DE SUA ENTIDADE EM PLANO NACIONAL PARA A REORGANIZAÇÃO DOS SOCIÓLOGOS BRASILEIROS.
Quando ocorreu o Congresso da Federação Nacional de Sociólogos, em Natal, a diretoria da primeira gestão, decidiu comparecer e os relatos foram demasiadamente frustrantes. Atualmente, nos mantemos distantes da Federação. Mas, pessoalmente, fico perplexo em assistir a uma entidade, que se propõe nacional, adotar bandeiras de luta distantes das aspirações dos sociólogos. Só leio informações sobre o SUAS. Não vejo nenhuma iniciativa voltada para a promoção de um debate amplo sobre a formação do sociólogo, o mercado de trabalho e o ensino de Sociologia. Uma entidade nacional deve ser capaz de promover conferências, fóruns, seminários, congressos nacionais sobre as questões mais candentes que envolvem a profissão do sociólogo. Ela deve ser plural, democrática e estimular a participação de todos. Ela tem que ser representativa de todos. Isso me parece ainda ser um sonho distante! Contudo, paradoxalmente, o movimento dos sociólogos tem avançado em vários estados, mesmo que isoladamente. Por isso, temos a vontade de contribuir para a construção de um movimento nacional dos sociólogos que seja representativo e unitário de fato.

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