CIÊNCIAS SOCIAIS

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19 de jan. de 2011

A EQUAÇÃO DAS CRISES SISTÊMICAS: FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO-POLÍTICO, OPRESSÃO SÓCIOECONÔMICA-POLÍTICA, CORRUPÇÕES, VIOLÊNCIAS E DESTRUIÇÃO AMBIENTAL

LIGA ÁRABE DISCUTE REVOLTA DAS POPULAÇÕES ÁRABES COMO DA TUNÍSIA

O secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, pressionou nesta quarta-feira os países desta região a dar uma resposta para "a cólera e a frustração sem precedentes" demonstradas por suas populações, que se originaram da revolta na Tunísia. "A revolução na Tunísia não afastou isto que discutimos aqui", declarou Moussa durante a cúpula dos países árabes no Egito que reuniu 22 membros da organização pan-árabe, consagrada a questões econômicas e sociais, em Sharm el-Sheikh, sul do Mar Vermelho.
"A alma árabe é enfraquecida pela pobreza, pelo desemprego e a queda nos índices de desenvolvimento", acrescentou, destacando a necessidade de conseguir atingir "conquistas reais" para melhorar as condições de vida. "A maioria desses problemas não foi resolvida", disse, ao afirmar que "os cidadãos árabes estão cheios de ira e frustração como nunca antes".
Essa cúpula de um dia constitui a primeira reunião de chefes de Estado árabes desde a fuga, na última sexta-feira, sob a pressão popular, do presidente tunisiano Zine El Abidine Ben Ali, após 23 anos de reinado. Os dirigentes, no entanto, se limitaram, em uma declaração final que não menciona a Tunísia, a "avançar em matéria de desenvolvimento humano, tecnológico e econômico".
A declaração acrescenta que "os desafios enfrentados pela região no domínio do desenvolvimento não são menos importantes do que os desafios políticos". Em sua única medida concreta, a cúpula confirmou um compromisso, estabelecido durante o encontro econômico árabe anterior de 2009 no Kuwait, que cria um fundo de US$ 2 bilhões para ajudar as pequenas e médias empresas e fomentar o trabalho. Esse fundo já recebeu US$ 1,4 bilhão.
Inúmeros governos árabes minimizaram nesses últimos dias as previsões de que a crise tunisiana poderia se reproduzir em outros países da região, deixando transparecer à vezes suas preocupações ante a situação. Argélia, Egito, Mauritânia e outros países árabes registraram no período uma série de imolações por fogo, similares ao gesto do jovem vendedor ambulante tunisiano, em meados de dezembro, que marcou o início da revolta que derrubou o presidente Ben Ali.

Os países árabes se veem afetados por uma onda de tentativas de suicídio por imolação com fogo, com dois novos casos nesta terça-feira no Egito, imitando o gesto de um jovem tunisiano, cuja morte desencadeou uma rebelião popular e um profundo mal-estar social e político na região.
O caso do jovem vendedor ambulante tunisiano, que morreu no início de janeiro após se imolar com fogo no dia 17 de dezembro, deu sequência a outros nove atos similares: um morto e dois feridos no Egito, cinco feridos na Argélia e um ferido na Mauritânia.
Nesta terça-feira, um advogado com cerca de quarenta anos tentou se suicidar ao incendiar o próprio corpo em frente a sede do governo no Cairo, enquanto na Alexandria (norte) um desempregado de 25 anos, descrito como deficiente mental pelas autoridades, morreu no hospital por causa de suas queimaduras.
O índice de referência da bolsa do Cairo retrocedeu nesta terça-feira em 3,1% já que alguns operadores temem que a situação na Tunísia possa afetar o Egito.
Para Amr Hamzawi, do Centro para o Oriente Médio da fundação americana Carnegie, com sede em Beirute, estas imolações refletem o "total desespero" de grande parte das populações árabes e a incapacidade dos regimes autoritários implantados nestes países de levar a elas uma resposta.
Esses atos foram "claramente inspirados pelos acontecimentos da Tunísia", onde o suicídio de Mohamad Buazizi, de 26 anos, desencadeou a rebelião que forçou na última sexta-feira o presidente Zine El Abidine Ben Ali a fugir do país, acrescentou.
"Já houve casos de suicídios motivados por protestos no Egito, mas é a primeira vez que ocorrem tentativas de imolação com fogo", destacou por sua vez o cientista político egípcio Amr al-Chobaki, do centro de estudos Al Ahram.
Para Hefny Kedri, professor de psicologia política da Universidade Ain Shams do Cairo, estas tentativas de suicídio com fogo são uma mensagem de desespero dirigida às autoridades, em uma região onde a vida política e social não oferece muitas possibilidades para expressar seu descontentamento.
"Não há diferença entre um suicídio por afogamento ou um suicídio por imolação com fogo, mas isso leva uma mensagem para o poder que quer dizer: 'protesto'. Isso é que é importante do ponto de vista psicológico", afirmou.
A situação na Tunísia deve virar assunto principal de uma cúpula econômica de líderes da Liga Árabe na quarta-feira em Sharm el-Sheij (Egito), em meio aos temores da persistente instabilidade neste país e de um contágio dos protestos aos vizinhos.
Vários países desta região sofrem males parecidos aos da Tunísia, em particular no plano social, com uma forte taxa de desemprego e recentes altas nos preços dos produtos básicos, que geraram múltiplas manifestações.
"Os países se desintegram, os povos se levantam, (...) e os cidadãos árabes se perguntam: por acaso os atuais regimes árabes podem fazer frente a esses desafios de forma eficaz?", admitiu o chefe da diplomacia do Kuwait, Mohamad al Sabá, durante os trabalhos preparatórios da cúpula.
O secretário-geral da Liga Árabe, Amr Musa, encorajou, por sua vez, os 22 membros da organização a "aprender a lição tunisiana" para enfrentar os desafios sociais e econômicos.
FONTE: Terra Notícias.

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