CIÊNCIAS SOCIAIS

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6 de mai. de 2012

VITÓRIA DE FRANÇOIS HOLLANDE PARA PRESIDENTE NA FRANÇA


Com champagne, multidão festeja vitória de Hollande em Paris 
06 de maio de 2012  19h11  atualizado às 19h28


Eleitora do Partido Socialista ergue uma rosa durante a comemoração pela vitória de Hollande na Bastilha. Foto: AFP
Eleitora do Partido Socialista ergue uma rosa durante a comemoração pela vitória de Hollande na Bastilha
Foto: AFP
LÚCIA MÜZELL
Direto de Paris
As ruas centrais da capital francesa foram invadidas por uma multidão de militantes e simpatizantes do Partido Socialista para comemorar a vitória do François Hollande nas eleições presidenciais da França deste domingo. Regada a champagne, a festa não tem hora para acabar na praça da Bastilha, onde os militantes esperam a chegada de Hollande, o primeiro socialista a presidir o país nos últimos 17 anos.
A concentração começou na Rue Solférino, próxima à Assembleia Nacional e onde fica a sede do Partido Socialista. Com rosas e balões coloridos nas mãos, jovens, idosos, crianças e famílias inteiras esperavam o resultado das pesquisas de boca de urna. Alegre e ansiosa, uma massa humana multicultural, formada por brancos, negros, loiros, pardos, asiáticos e árabes aumentava a cada segundo na medida em que o relógio se aproximava das 20h (15h em Brasília), horário em que tradicionalmente as emissoras de televisão exibem o rosto do novo presidente. Quando os cronômetros marcavam 19h59min40s, a dezenas de milhares de pessoas iniciaram uma contagem regressiva até visualizar a imagem do socialista - Hollande venceu.
"Nós ganhamos! Nós ganhamos!", foi a frase escolhida para festejar, por longos minutos, enquanto as champagnes eram estouradas e despejadas sobre os militantes. Um pouco mais de "François presidente! François presidente!", e chegou a hora de comemorar também o fim do governo Sarkozy. "Sarkozy, c'est fini! Sarkozy, 'c'est fini!" (Sarkozy acabou).
Muitos filmavam, fotografavam e não desgrudavam dos telefones, transmitindo ao vivo o clima da comemoração nas redes sociais. O momento mais emocionante foi quando a multidão cantou a Marselhesa, o hino da França, com o vigor e a euforia de quem acabara de vencer uma Copa do Mundo.
Desconhecidos se abraçaram; os mais entusiastas, choraram. "Choro porque faz cinco anos que eu me sinto perseguida, humilhada. Esta não era a França", desabafou a estudante Zoha Abhetan, de origem marroquina, que vive desde os 6 anos no país. Uma das marcas do governo do conservador era o cerco à imigração, tanto ilegal quanto legal, e a relação delicada que mantinha com os franceses de origem magrebina, a região do norte da África colonizada pela França no século XIX.
Com o filho de 3 anos sobre os ombros, o engenheiro Claude Lepont concorda. "Fiz questão de trazer os meus filhos para eles verem desde cedo que existe outra França, mais humanista, mais solidária. Tenho muita esperança nesta mudança de governo", comentou.
"Felizmente, os franceses são menos estúpidos que eu estava imaginando. Depois da altíssima votação da extrema direita no primeiro turno, eu tinha ficado muito decepcionada", afirmou outra estudante, Céline J., com corações desenhados nas bochechas. "É para homenagear a mensagem política de Hollande, uma mensagem de união, de amor", explicou.
Minutos depois do anúncio da vitória, os militantes começaram a marchar pela cidade rumo à praça da Bastilha, onde a festa continuou. Pelo menos 100 mil pessoas se concentram no local e, enquanto aguardam o novo presidente, se divertem com shows de diversos artistas franceses que apoiaram a campanha socialista, como Yannick Noah. O local da festa da vitória não foi escolhido à toa: a Queda da Bastilha marcou o início da Revolução Francesa, em 1789.
Depois de ganhar o primeiro turno com 28,6% dos votos, François Hollande confirmou a vitória nas urnas neste domingo, com 51,7% das cédulas. Ele deve assumir o cargo na semana que vem, no dia 15 de maio.



François Hollande acena para seus apoiadores antes do discurso da vitória pronunciado na cidade de Tulle. Foto: AFP
François Hollande acena para seus apoiadores antes do discurso da vitória pronunciado na cidade de Tulle
Foto: AFP
O virtual presidente eleito da França, François Hollande, abriu o seu primeiro discurso após as eleições presidenciais deste domingo dizendo que os franceses "optaram pela mudança" ao escolhê-lo. O socialista declarou oficialmente sua vitória diante de multidão localizada em uma praça na cidade de Tulle, seu reduto eleitoral, no centro do país.
Hollande afirmou que estava ciente das responsabilidades que o seu governo terá por representar a mudança. "A mudança que eu proponho deve estar à altura da França. Ela começa agora", disse, acrescentando que estava "profundamente agradecido" a todos que votaram nele.
Logo depois, vaias foram ouvidas quando ele estendeu seus cumprimentos ao atual presidente e candidato derrotado, Nicolas Sarkozy. As pesquisas de opinião apontam que Hollande venceu as eleições com 52% dos votos, contra 48% de Sarkozy.
Se dirigindo aos eleitores que não votaram nele, Hollande disse que vai respeitar os seus sentimentos e que será o presidente de todos os franceses. "Nenhum dos filhos da República será deixado de lado. Todos na França serão tratados com igualdade", afirmou.
Ele acrescentou que "a redução do déficit, a preservação de nosso modelo social para garantir a todos o mesmo acesso aos serviços públicos e a igualdade entre territórios" serão outras prioridades de seu mandato, além da educação, do meio ambiente e das políticas específicas para a juventude. "Cada decisão será tomada sobre estes dois critérios: É justo? É para a juventude?", afirmou Hollande.
Hollande salientou o fato de que toda a Europa estava de olho nas eleições francesas e afirmou que o resultado na França trouxe alívio para diversas regiões do continente. "Na hora em que o resultado foi anunciado, tive a certeza que em diversos países europeus houve um sentimento de alívio e de esperança, de que, por fim, a austeridade não deve ser mais uma fatalidade", se referindo a política de resposta à crise europeia e da qual é opositor. Entre suas prioridades disse que estará a de impulsionar uma "reorientação da Europa rumo ao emprego, o futuro e o crescimento".
Hollande ressaltou ainda que transmitirá "o mais rápido possível" a seus parceiros europeus, e em primeiro lugar à Alemanha, "em nome da amizade que nos une", sua política de aposta em medidas que impulsionem o crescimento. "Não somos um país qualquer do planeta, somos a França", destacou perante o apoio de seus seguidores.
A vitória de Hollande marca o retorno da esquerda à presidência da França, 17 anos após o fim do segundo mandato do ex-presidente socialista François Mitterrand, em 1995. Mitterrand - a principal inspiração do agora presidente eleito - foi sucedido pelo conservador Jacques Chirac (1995-2007), e depois por Nicolas Sarkozy (2007-2012), ambos do partido de direita União por um Movimento Democrático.
Hollande recebeu a notícia em seu comitê de campanha em Tulles, em Corrèze, reduto político do presidente eleito. Depois de votar, pela manhã, ele permaneceu no escritório durante o restante do dia, acompanhado apenas da mulher, Valérie Trierweiler, e de um conselheiro que o ajuda a preparar o seu discurso. Na capital, ele é aguardado na imensa festa popular que acontece na sede do Partido Socialista, na Rue Solférino, e depois na Praça da Bastilha, palco da Revolução Francesa, em 1789.
Mudança e reconciliação
O socialista informou à imprensa que passou uma noite "tensa" e estava ansioso durante o dia inteiro. Esta foi a primeira vez que ele concorreu ao Palácio do Eliseu e a sua vitória é o resultado de um esforço pessoal fora do comum: nas eleições anteriores, em 2007, ele era secretário-geral do partido e visto como um político sem liderança e pouco expressivo. Mas desde que deixou as rédeas do PS, em 2008, Hollande passou por uma verdadeira metamorfose: perdeu 10 kg, rejuvenesceu o visual, passou a moderar nas piadas irônicas pelas quais era conhecido e, principalmente, se colocou como a voz moderada e sensível do partido.

De encontro a um presidente que colecionava gafes contra as classes populares, em tempos de crise a França precisava de um homem que trouxesse de volta a conciliação. Com essa determinação, Hollande decidiu que a sua hora de concorrer ao cargo máximo da República tinha chegado. Coincidência ou não, a candidatura do favorito para disputar o Palácio do Eliseu pelo Partido Socialista, Dominique Strauss-Kahn, acabou ficando pelo caminho. A cinco meses das prévias que escolheriam o candidato, no ano passado, um escândalo sexual em Nova York pôs fim aos planos do ex-diretor do FMI, visto como o único capaz de vencer Sarkozy nas urnas. O desânimo tomou conta dos socialistas, que começaram a duvidar, mais uma vez, da capacidade de voltar ao poder.
Campanha sem falhas
Porém, uma vez escolhido pelos militantes, Hollande deu início a uma campanha sem falhas: bom de discurso, percorre a França inteira pedindo a mudança e tentando transmitir a confiança que faltava aos franceses. Alguns o chamam de "frouxo", outros, de "bonzinho demais". O próprio Sarkozy diz que Hollande é sem dúvida um homem inteligente, mas "que não sabe dizer não".

No entanto, o primeiro grande comício de campanha do socialista, em Bourget, na periferia de Paris, mostra que as mudanças não foram somente no visual. Diante da multidão, aparece um candidato firme, decidido e transbordando vontade política de reunir os franceses em torno dos valores republicanos, a liberdade, a igualdade, a fraternidade. Essa determinação o acompanha durante toda a campanha, inclusive no esperado - e, sem dúvida, temido - debate cara a cara contra Sarkozy, visto pelo presidente como a oportunidade de ouro para reverter o quadro e, quem sabe, vencer as eleições.
No primeiro turno, as urnas confirmam a primeira façanha: jamais na história da 5ª República Francesa um presidente em exercício tinha ficado em segundo lugar no primeiro turno. Agora, os franceses confirmaram que querem sim a mudança tanto pedida por Hollande. Resta ao novo presidente provar que será capaz de, diante tantas adversidades, trazer de volta a França que tanto desperta admiração.
Com informações de Lúcia Müzell, direto de Paris
Fonte: Terra Notícias

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